Escrevo com caneta de tinta permanente marca Sheaffer, aparo de ouro, em papel de 80 gramas. Tal como cantava o antigo samba, “tenho uma irmã que se chama Ana” que nas suas inspiradas horas vagas transfere tudo para o computador, de preferência em caracteres arial, corpo 12 a espaço e meio. É sobre essa mancha a princípio estranha, que vou exercer a minha crítica interveniente que pode dar para demolir tudo e refazer ao sabor do momento. Se for longo, o novo texto salta para o bico da Sheaffer e assim sucessivamente. A verdade é que, apesar da minha aversão às teclas, que vem talvez do tempo das máquinas de escrever nas quais erros e correcções se sobrepunham á ideia e sobretudo ao prazer da escrita, e das tentativas falhadas de fazer corresponder os sons que despertava nas teclas do piano aos que ia descobrindo algures nos neurónios inacessíveis, acabei por me render à clareza das manchas que, apesar do conflito com as teclas, vou manobrando e orientando no sentido das paragens nunca localizadas da memória ou do desejo. O conflito situa-se agora, mais raivosamente, ao nível dos telemóveis, sobretudo quando por delicadeza me sinto obrigado a enviar um SMS.

Então e o “blog”?

O blog veio ao meu encontro. Apareceu feito por traição da minha própria filha Ana (são três as minhas Anas mais próximas: mulher, filha e irmã) e não sei como serão as nossas futuras relações. Com o blog, evidentemente. Logo se verà. Mas o verdadeiro responsável foi na verdade O DIA CLARO.